Comportamento e Mentalidade

O lado emocional do dinheiro: como sentimentos sabotam (ou ajudam) sua vida financeira

Thiago dos Santos Rosa
24 de novembro de 2025
4 min de leitura

Explora como ansiedade, culpa, comparação e compensação emocional afetam as decisões financeiras. Dá dicas de como identificar gatilhos e criar novos hábitos mais saudáveis.

Dinheiro não é só matemática

Se organizar as finanças fosse apenas questão de números, todo mundo que sabe somar e subtrair estaria rico. Mas não é assim que funciona. Por trás de cada decisão financeira existe uma emoção: medo, ansiedade, alegria, raiva, culpa.

Você não gasta só porque precisa. Você gasta porque está triste, entediado, ansioso, querendo impressionar alguém, ou fugindo de algo. E enquanto você não entender essas emoções, vai continuar se sabotando financeiramente.

As emoções que sabotam suas finanças

1. Ansiedade: o combustível das compras impulsivas

"Preciso comprar isso AGORA ou vai acabar"

"E se eu perder essa promoção?"

"Todo mundo já tem, só eu que não"

A ansiedade te faz tomar decisões rápidas sem pensar. Você compra no impulso para aliviar aquela sensação de urgência.

Como identificar:

  • Você compra sem pesquisar preço
  • Não consegue esperar nem um dia para decidir
  • Se arrepende depois de comprar

O antídoto: A regra das 24 horas. Quando bater a vontade de comprar, espere 24 horas. Se ainda quiser (e puder), aí sim compre.

2. Compensação emocional: "compro porque mereço"

"Tive um dia ruim, mereço esse presente"

"Trabalhei tanto, mereço me dar bem"

"A vida é curta, vou aproveitar"

Você usa compras para preencher um vazio emocional: solidão, insatisfação no trabalho, falta de reconhecimento, tédio.

Como identificar:

  • Você compra mais quando está triste ou estressado
  • Sente alívio temporário após comprar
  • Depois vem a culpa e o arrependimento

O antídoto: Liste 5 coisas gratuitas que te fazem bem: caminhar, ligar para um amigo, assistir uma série, fazer exercício. Quando bater a vontade de "se dar um presente", faça uma dessas coisas primeiro.

3. Comparação: "se fulano tem, eu também posso ter"

"Meu colega trocou de carro, por que eu não?"

"Todo mundo viaja, eu também quero"

"Ela sempre tem roupa nova, por que eu não posso?"

As redes sociais pioram isso. Você vê o highlight reel da vida dos outros e compara com seus bastidores.

Como identificar:

  • Você compra coisas que não precisava antes de ver em alguém
  • Se sente mal vendo fotos de viagens e compras dos outros
  • Gasta para "manter as aparências"

O antídoto: Lembre-se: você não sabe a situação financeira dos outros. Aquele carro novo pode estar 100% financiado. Aquela viagem pode estar no cartão. Foque na SUA vida, não na dos outros.

4. Negação: "não quero ver, não quero saber"

"Nem vou olhar o extrato, vai me deixar nervoso"

"Depois eu resolvo isso"

"Não pode estar tão ruim assim"

A negação é um mecanismo de defesa. É mais confortável não saber do que enfrentar a realidade.

Como identificar:

  • Você evita abrir o app do banco
  • Não sabe quanto deve
  • Ignora ligações de cobrança

O antídoto: Encare a realidade de uma vez. Marque um horário, respire fundo, e olhe seus extratos e dívidas. Sim, vai doer. Mas só depois de encarar você pode agir.

5. Culpa: "sou péssimo com dinheiro"

"Nunca vou conseguir me organizar"

"Sou um desastre financeiro"

"Não tenho jeito"

A culpa te paralisa. Em vez de agir, você fica se lamentando.

Como identificar:

  • Você se pune comprando menos ainda (até o necessário)
  • Fica remoendo erros financeiros do passado
  • Desiste antes mesmo de tentar

O antídoto: Perdoe-se. Todos cometem erros financeiros. O importante não é ser perfeito, é melhorar 1% a cada dia.

Identifique seus gatilhos emocionais

Durante uma semana, toda vez que sentir vontade de gastar, anote:

  • Que horas eram?
  • Como você estava se sentindo?
  • O que tinha acabado de acontecer?
  • Você estava sozinho ou com alguém?

Depois de uma semana, você vai notar padrões:

  • "Eu sempre gasto mais na sexta à noite quando estou cansado"
  • "Eu compro quando estou entediado em casa"
  • "Eu gasto quando vejo minhas amigas postando viagens"

Uma vez que você identifica o gatilho, pode criar estratégias para evitá-lo.

Exercício: Diário financeiro emocional

Durante 30 dias, anote:

DataCompraValorComo me sentia?Foi necessário?05/11DeliveryR$ 65Cansado, estressadoNão, tinha comida em casa07/11RoupaR$ 120Triste após discussãoNão, tenho roupas

No final do mês, você terá uma visão clara de como suas emoções afetam seus gastos.

Como criar novos hábitos financeiros saudáveis

1. Substitua a recompensa

Em vez de: "Vou comprar algo para me sentir melhor"

Tente: "Vou fazer algo que me faz bem de graça"

2. Crie um "fundo de alegria"

Separe uma pequena quantia mensal (R$ 50-100) especificamente para gastar sem culpa. Assim você não se sente privado.

3. Pratique gratidão

Antes de comprar, liste 3 coisas que você já tem e é grato por ter. Isso muda o foco da escassez para a abundância.

4. Defina metas emocionais, não só financeiras

Em vez de: "Quero guardar R$ 5.000"

Tente: "Quero me sentir seguro sabendo que tenho dinheiro para emergências"

Quando buscar ajuda profissional

Se você:

  • Compra compulsivamente e não consegue parar
  • Sente vergonha extrema sobre suas finanças
  • Tem discussões frequentes sobre dinheiro no relacionamento
  • Usa compras para lidar com depressão ou ansiedade

Considere procurar um psicólogo. Compulsão por compras é um problema real e tratável.

Lembre-se:

Suas emoções não são inimigas. Elas só estão tentando te proteger (mesmo que de forma inadequada). O segredo não é suprimi-las, mas entendê-las e criar estratégias mais saudáveis de lidar com elas.

Organização financeira não é só planilha e orçamento. É autoconhecimento. É entender por que você faz o que faz com seu dinheiro.

"Dinheiro é 20% conhecimento e 80% comportamento." - Dave Ramsey

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